domingo, 29 de novembro de 2009

17ª OFICINA

O assunto em pauta da 17ª oficina foi a GRAMÁTICA.

Iniciamos assistindo ao vídeo "O assalto". Em seguida os professores colocaram seus pontos de vista sobre o ensino de Língua Portuguesa nas escolas e como, ainda hoje, acaba ocorrendo uma cobrança maior dos professores desta disciplina, quando na verdade, é um trabalho que deve ser feito por todas as áreas. Foi um momento de grandes elogios ao material do Gestar II, que apresentou possibilidades diversificadas e mais próximas à realidade dos alunos. Os cursistas comentaram da dificuldade de usar o livro didático, recebido do governo, com textos e contextos diferentes da realidade dos educandos, diversos dos conhecimentos de mundo dos alunos.

Procuramos:
•1- caracterizar a gramática interna e o ensino produtivo;
•2- caracterizar a gramática descritiva e o ensino reflexivo;
•3- caracterizar a gramática normativa e o ensino prescritivo.

Falamos sobre frase, oração e período, e das diferentes organizações da frase e do período em cada texto.
Foi sugerido que os alunos fizessem uma coletânea com vários tipos de texto e trabalhassem em grupo para ler e perceber as diferenças na estruturação frasal.

domingo, 22 de novembro de 2009

16ª OFICINA

A 16ª oficina baseou-se na LEITURA e seus cruzamentos (rede de significados X rede de imaginação).
Foram apresentadas figuras de fundo e sugerido que cada um dissesse o que enxergava.A partir das diferenças no modo de "ver" as figuras, conceituamos leitura, leitor e interlocutor.

Em seguida trabalhamos com a história do GATO FEIO. Depois da leitura, algumas professoras se emocionaram e pensaram em trabalhar com os alunos a argumentação através desta história. Qual é a opinião das crianças sobre o Gato Feio? O que elas fariam? Instigar a expressão oral sobre o que é importante na vida.

Discutimos também a importância de se levar em conta a bagagem de cada aluno, associando a leitura ao conhecimento de mundo de cada um. Mostramos várias tiras de histórias em quadrinhos que trabalham com isso.

Finalizamos com o clip da música Another Brick In the Wall, do Pink Floyd, e com a análise da letra. Que tipo de alunos queremos, afinal?

domingo, 15 de novembro de 2009

15ª OFICINA

A 15ª oficina realizou-se no dia 10 de novembro.

Retomamos a intertextualidade fazendo a leitura do texto Outras Vidas, de Vanessa Mello.

Em seguida, leitura do texto "Notícia de Jornal", de Fernando Sabino:

"Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome.
Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.
Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.
O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome.
Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar.
Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.
Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da rádio patrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome."


Após, "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto:


"De sua formosura
já venho dizer:
é um menino magro,
de muito peso não é,
mas tem o peso de homem,
de obra de ventre de mulher.



De sua formosura
deixai-me que diga:
é uma criança pálida,
é uma criança franzina,
mas tem a marca de homem,marca de humana oficina.



Sua formosura
deixai-me que cante:
é um menino guenzo
como todos os desses mangues,
mas a máquina de homem
já bate nele, incessante.



Sua formosura
eis aqui descrita:
é uma criança pequena,
enclenque e setemesinha,
mas as mãos que criam coisasnas suas já adivinha.



De sua formosura
deixai-me que diga:
é belo como o coqueiro
que vence a areia marinha.


De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como o avelós
contra o Agreste de cinza.



De sua formosura
deixai-me que diga:
belo como a palmatória
na caatinga sem saliva.


De sua formosura
deixai-me que diga:
é tão belo como um sim
numa sala negativa.



É tão belo como a soca
que o canavial multiplica.
Belo porque é uma porta
abrindo-se me muitas saídas.


Belo como a última onda
que o fim do mar sempre adia.
É tão belo como as ondas
em sua adição infinita.



E belo porque com o novo
todo o velho contagia.
Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia.


Infecciona a miséria
com vida nova e sadia.
Com oásis, o deserto,
com ventos, a calmaria."


Depois de apresentar os dois textos acima, foi lido o terceiro texto, que é uma crônica produzida com intertexto relativo ao "Notícia de Jornal" e "Morte e Vida Severina".


Pariu no Corredor do Hospital
(Renata Appel)


"Leio no jornal a notícia de uma mulher que pariu no corredor do Hospital Fêmina. Jovem, negra, pobre, pariu no corredor do hospital, com poucos socorros, em pleno banco estofado, em meio a enfermeiras, médicos e pacientes. Somente abriu as pernas e deu à luz.
Pariu no corredor do hospital. Gritou por ajuda, clamou por assistência médica. No entanto, o tempo não pôde esperar e acabou parindo em pleno corredor.

Gestante pariu no corredor de hospital. A enfermeira disse que havia falta de quartos. Fêmina apresentava super lotação de parturientes. E a pobre negra somente abriu as pernas e deu à luz.
Eis que de seu ventre surge um menino magro. De muito peso não é, mas tem peso de homem, de obra de ventre de mulher. É uma criança pálida e franzina. Mas tem a marca de homem, marca de humana oficina.

Pariu no corredor do hospital. Entre diversas enfermeiras, médicos e pacientes. Mulher pobre. Sozinha. Miserável. Gestante. Jovem demais. Negra. Baixo nível. Ignorante. Um bicho, uma coisa - não foi tratada como digna parturiente. E pariu no corredor do hospital. E eis que de seu ventre salta uma criança pequena. É tão bela como um sim numa sala negativa. Não é responsabilidade dos profissionais, nem do hospital, nem das autoridades. O que têm a ver com o fato? Deixa a mulher parir em pleno corredor.
E ela, o que faz? Jovem e destemida dá à luz sobre um banco estofado, sem recursos e com pouco auxílio. E eis que de seu ventre nasce o menino. Somente após o ocorrido, a jovem é amparada. Nos braços, o rebento abençoado infecciona a miséria com vida nova e sadia."

Os cursistas perceberam que a intertextualidade é o diálogo de um texto com outros textos.
Assistimos ao vídeo "Língua- Vidas em Português" e para finalizar a oficina, fizemos a associação do filme com o texto "Babel é aqui: todas as línguas do português", da nossa professora Ormezinda Maria Ribeiro - Aya.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

14ª OFICINA

A 14ª oficina, ocorreu no dia 03 de novembro.

Iniciamos falando que os professores de língua portuguesa não ensinam "português", ensinam uma variante culta, padrão. Os alunos aprenderam a falar em casa, ou seja, trazem uma variante. Para reflexão, assistimos ao vídeo do Pink Floyd, mostrando como o ensino pode ser massificado, como podemos transformar nossos alunos em "robôs".

Para amenizar, foi a vez do vídeo de Chico Anysio, somente com palavras com "M". Em seguida, foi lido o texto de apoio "Sim, sou seu súdito", de Fábio Henrique Gimenez Nagata, somente com palavras com "S".


Os cursistas tiveram que ampliar a frase "O RATO ROEU A ROUPA DO REI DE ROMA".

"O RÁPIDO RATO ROMEU RUIDOSAMENTE ROEU A ROUPA RUBRA RELUZENTE DO RICO REI ROBERTO RIBEIRO DA ROSA ROCHA, DA REQUINTADA ROMA. A RAINHA RAQUEL RAPOSO DA ROSA ROCHA, RABUGENTA, RANZINZA, RAQUÍTICA, RINDO, ROEU RAPIDAMENTE O RESTO, RESTANDO RESQUÍCIOS ROTOS. O REI RESTRINGE-SE A RALHAR RISPIDAMENTE RATOS ROEDORES E A RAINHA REINA RADIANTE ROMA."


Trabalhando com o Intertexto, assistimos:
- Hino Nacional Patrocinado
- Propagandas
- Revistas
- Profissões

Fizemos a leitura de O carteiro chegou e os professores perceberam a intertextualidade com outras histórias infantis: Os Três Ursos, João e Maria, João e o Pé de Feijão, Cinderela, Chapeuzinho Vermelho e Cachinhos Dourados. Foram percebidos também os diferentes tipos de correspondência entregues pelo carteiro. A atividade dos professores foi, usando o mesmo recurso do livro O carteiro chegou, escrever uma história infantil fazendo alusão a outras histórias.

13ª OFICINA

No dia 27 de outubro, no Laboratório de Informática da EMEF Germano Dockhorn, ocorreu a 13ª oficina do Gestar de Língua Portuguesa.

Os cursistas iniciaram lendo "Sugestão de Códigos de Revisão de Texto", e hipotetizaram de que maneira poderiam criar com seus alunos esse tipo de código.

Depois, foram apresentados os objetivos do TP1:
- relacionar língua e cultura;
- identificar os principais dialetos do Português;
- identificar os principais registros do Português;

Quando discutido sobre a variação linguística, foram apresentados os seguintes vídeos:
- Dicionário Mineirês/Portugueis
- Mineirinho dando notícia
- Só nordestino entende
- O nome dos filmes no Dicionário Gaúcho
- Como o brasileiro elogia uma mulher
- O matuto vai ao cinema

Após cada vídeo, eram colocadas as impressões de cada participante. Dentro da variação linguística também, foi lido um texto "Quando se tem doutorado.../ Quando se tem mestrado..." para mostrar como uma mesma coisa pode ser dita de maneiras diferentes e mais ou menos rebuscada, dependendo do grau de instrução de cada pessoa.

Viram também "Chico, o orador da turma" e "Orador de Direito", momento de muita descontração e riso.

Em seguida, leram o texto sobre o Alfredão e foi sugerido que, ao trabalhar com os alunos, fizessem a reescrita com outro linguajar típico. Os professores receberam como texto de apoio "Um passeio pelas gírias através dos tempos".


Um passeio pelas gírias através dos tempos
Ormezinda Maria Ribeiro- Aya


Ainda garoto, levei uma taboa, nos idos de 1930. Eu era um almofadinha, pé rapado, liso que nem pau-de-sebo. Fiquei jururu. É fato, mas jurei me tornar um figurão abonado pra nunca mais ouvir uma ladainha daquela lambisgóia. Fiquei quase uma década me recuperando dessa malfadada sorte. Depois resolvi recobrar o tempo perdido e correr atrás de um brotinho, um chuchu que conheci em um desses balangandans que freqüentava na época. Convidei aquela tetéia para assistir a uma chanchada, a coqueluche do momento. Foi a maior fuzarca. O pai dela não gostou nem um pouco. Levei uma carraspana. Só me esqueci desse bafafá dez anos depois. Tomei um chá de cadeira sem igual. Não seria fácil paquerar aquela uva. Ela não se esqueceu do fuzuê. Eu já estava ficando coroa, mas ainda era pra frente e bacana paca, um tremendão. Além do mais, meu chapa, nos anos 60 eu não era nenhum pé de chinelo. Era um cara boa pinta, tinha um carango envenenado, um papo firme. Desses de fazer qualquer gata gamar. E uma coisa era certa não era pelego e nem cafona. Resolvi dar uma esticada e encarar uma boazuda. Estava a fim de uma gata barra-limpa e não era de mancar. Mas ela tirou onda no maior ziriguidum. Veio com aquele papo furado e eu, que estava naquela de pode vir quente que estou fervendo, curti a maior fossa. Mais 10 anos, Bicho, desisti da uvinha que a essas alturas já estava meio passada, um bicho grilo Não era mais um pedaço-de-mau-caminho. E eu anda era um pão. Não era de se jogar fora. Estava a fim de uma fofa. Numa boa, podes crer! Tentei fazer a cabeça dela. Que barra! Eu estava por fora. Ela não gostou da chacrinha. Entrei pelo cano. Foi chocrível: ela me chamou de goiaba e deu no pé. Já era. Enveredei pela política. Virei biônico, fiquei careta, o maior caxias. Deixei de ser aquele cara jóia que transava o amor no maior breu, curtindo adoidado. Nem tchum para as coisas do coração. Meu negócio era tutu, bufunfa, grana maneira. Entrei de bode nos anos 80, meio deprê, mergulhei naquele economês fajuto, preocupado com as patrulhas ideológicas, vendo a beleza passar no movimento daquelas minas de fio dental. Que massa! Como me senti brega! Chegaram os anos 90 e eu decidi acordar para a vida. Nas ruas, os caras pintadas faziam pressão. Já aposentado, por pouco levaria a pecha de boiola. As minas da minha galera viraram gastinhas. Embacei demais. Fiquei muito tempo pagando um sapo Vou entrar de sola em outra praia. Estou na área e vou lançar meu olhar quarenta e três, pensei. Antenado, quis deixar de ser um mala e parti para a azaração. Não queria mais queimar o filme. Descobri que ficar é o bicho. Chega de rolo e de encoleirar. Achei uma pitchula lipada e fui sintonizar o canal. Sou um animal. Estava convencido. Vestido como um mauricinho à procura de uma patricinha filé que me desse mole, fui chavecar. Não sou nenhum papa-anjo, mas resolvi jogar meu papo um-sete-um pra cima da primeira maria gasoza que me atravessasse. Estava disposto a liberar a verba. Que furo! Paguei o maior mico! Amarradão, encarnei uma ganzepa meio fubanga. A essas alturas da vida, Mano Brown, não poderia escolher muito. O que pode querer um velho rico e solitário? Também não estava a fim de nenhuma perua tranquera. Estava me sentindo assim fuderoso. Meio travado, entrei de sola, cheguei na popozuda. Escamosa, me chamou de tio sukita. O vacilão aqui ainda pensou que era elogio. Fiquei na pista. É mesmo o fim do século. Pirei na batatinha, quando um Lobão chegou de lado e mandou: “Ai, vei, valeu! Simbora que eu vou vazar com a cachorrona”. Aí já era demais! Outra táboa esse meu coração matusalém não agüentaria. Viajei no tempo... Fui!...

Artigo publicado no caderno "I", Coluna "Opinião", edição nº 6085 do Jornal de Uberaba, p. 02, dia 06/01/2007.